terça-feira, 6 de outubro de 2020

 


Se queremos aumentar a procura no mercado, devemos primeiro aumentar a produção

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Seguindo as ideias de John Maynard Keynes e Milton Friedman, muitos decisores políticos associam o crescimento económico ao aumento da procura de bens e serviços.

Tanto Keynes como Friedman defenderam que a Grande Depressão da década de 1930 se devia a uma insuficiência de procura agregada e que, assim, a forma de resolver o problema era aumentar a procura agregada.

Para Keynes, isso tinha solução fazendo com que o governo injectasse mais dinheiro na economia e o gastasse quando o sector privado não o fizesse. Friedman advogava que os Bancos Centrais bombeassem mais dinheiro para reavivar a procura.

Mas nunca existe uma procura insuficiente. A procura de um indivíduo é limitada pela sua capacidade de produzir bens. Quanto mais bens um indivíduo pode produzir, mais bens pode exigir, ou seja, adquirir.

Note-se que a produção (receita) de um indivíduo é o que lhe vai permitir pagar a produção do outro indivíduo. (Quanto mais bens um indivíduo produz, mais bens ele pode garantir para si mesmo. A procura de um indivíduo é, portanto, condicionada pela sua produção própria de bens.)

Neste sentido, os produtores e não os consumidores são o motor do crescimento económico. Obviamente, se quiser ter êxito, um produtor tem de produzir bens e serviços em conformidade com o que outros produtores (consumidores) exigem.

De acordo com James Mill,

Quando os bens são transportados para o mercado, o que se quer é alguém para os comprar. Mas para comprar, é preciso ter os meios para pagar. São, evidentemente, os meios coletivos de pagamento que existe m em  toda a nação que constituem o mercado da nação. Mas em que consistem os meios coletivos de pagamento de toda a nação? Não consistem no seu produto anual, na receita anual da massa geral dos habitantes? Mas se o poder de compra de uma nação é exatamente medido pelos seus produtos anuais, como é, sem dúvida; Quanto mais se aumenta o produto anual, mais por esse mesmo ato se alarga o mercado nacional, o poder de compra e as compras reais da nação....Assim, parece que a procura de uma nação é sempre igual ao produto de uma nação. Isto deve ser, de facto, assim; para o que é a exigência de uma nação? A exigência de uma nação é exatamente o seu poder de compra. Mas qual é o seu poder de compra? A extensão, sem dúvida, dos seus produtos anuais. Por conseguinte, a extensão da sua procura e a extensão da sua oferta são sempre proporcionais.1

Se uma população de cinco indivíduos produz dez batatas e cinco tomates , isto é tudo o que eles podem consumir.

Nenhum truque do governo e do banco central pode permitir aumentar a sua procura efetiva. A única maneira de aumentar a capacidade de consumir é aumentar a capacidade de produzir.

A dependência da procura na produção de bens não pode ser eliminada através do bombeamento monetário e das despesas do governo.

Políticas orçamentais e monetárias frouxas só irão empobrecer os verdadeiros geradores de riqueza e enfraquecer a sua capacidade de produzir bens e serviços — enfraquecerão a procura efetiva.

Uma vez que o governo não produz riqueza real, as poupanças reais terão de ser desviadas das atividades geradoras de riqueza. No entanto, isto vai minar os geradores de riqueza e vai enfraquecer o verdadeiro processo de geração de riqueza. O exemplo simples que se segue encapsula a situação.

Numa economia que é composta por um padeiro, um sapateiro e um cultivador de tomate, outro indivíduo entra em cena. Este indivíduo é um "comprador" que está a exercer a sua procura de bens através da força (artificialmente).

Tal procura vai dar origem a mais produção como a "lógica" popular indica? Mas se isso pode vir a ser verdade a prazo, no momento só vai criar distorções: Primeiro os bens existentes vão ser rateados por mais compradores e, assim sendo, a consequência imediata é o aumento artificial dos preços, a inflação. Os produtores vão ficar com menos da sua produção para usufruirem.

O padeiro, o sapateiro e o agricultor serão obrigados a separar-se do seu produto em troca de nada, o que, por sua vez, enfraquecerá a produção de bens de consumo finais.

Por conseguinte, o que é  necessário para reanimar a economia não é impulsionar a procura agregada, mas sim colmatar todas as lacunas para a criação de dinheiro do nada e para travar as despesas do governo.

Isto permitirá que os verdadeiros geradores de riqueza reavivem a economia, permitindo-lhes avançar com o negócio da geração de riqueza.

Podemos concluir que, reforçando a capacidade da economia de produzir bens e serviços, estamos, de facto, a reforçar a chamada procura agregada e a promover um crescimento económico real.

  • 1. James Mill, On the Overproduction and Underconsumintion Fallacies, ed. George Reisman (Laguna Hills, CA: Jefferson School of Philosophy, Economics, and Psychology, 2006).

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