domingo, 18 de outubro de 2020

 A foice e o martelo versus a suástica

Se pedir a um cidadão comum para pensar nos dois extremos do espectro político, são grandes as chances de que ele irá imediatamente visualizar, de um lado, a suástica e, do outro, a foice e o martelo. Independentemente de quais sejam as suas visões acerca do paradigma esquerda-direita, ou mesmo se ele acredita na teoria da ferradura, este indivíduo (corretamente) irá pensar no nazismo e no comunismo como sendo as duas ideologias típicas dos extremos.

No entanto, e curiosamente, a rejeição a ambos os símbolos não é a mesma.

Ao verem a suástica, as pessoas imediatamente são remetidas aos horrores do regime nazista, com as suas perseguições étnicas e seus homicídios sistematizados, e corretamente sentem uma total repulsa. Em vários países europeus, com efeito, ostentar publicamente uma suástica é crime. Dado que os nazistas foram responsáveis pela chacina de cerca de 20 milhões de pessoas, todos nós entendemos quão abominável é esta ideologia e corretamente a tratamos com desrespeito e repugnância.

Porém, como é que essas mesmas pessoas reagem ao símbolo da foice e do martelo? Em muitas ocasiões, há aceitação e, na maioria das vezes, há apenas indiferença. O que leva à inevitável pergunta: por que é que a ideologia responsável diretamente por mais de uma centena de milhões de mortes não recebe o mesmo tratamento que a ideologia nazista?

Um histórico vermelho de sangue

Os atos inomináveis de Adolf Hitler empalidecem em comparação com horrores cometidos pelos comunistas na antiga URSS, na República Popular da China e no Camboja, apenas para ficar entre os principais.

Entre 1917 e 1987, Vladimir Lenin, Josef Stalin e seus sucessores assassinaram 62 milhões de pessoas do seu próprio povo. O ponto de partida foi a Ucrânia, onde, de acordo com o historiador Robert Conquest, o regime comunista foi o responsável direto por 14,5 milhões de mortes.

Já entre 1949 e 1987, o comunismo da China, liderado por Mao Tsé-Tung e seus sucessores, assassinou ou de alguma maneira foi o responsável pela morte de 76 milhões de chineses (há historiadores que dizem que o número total pode ser de 100 milhões ou mais. Somente durante o Grande Salto em Frente, de 1959 a 1961, o número de mortos varia entre 20 milhões e 75 milhões. No período anterior foi de 20 milhões. No período posterior, dezenas de milhões a mais.) O próprio Mao Tsé-Tung gababa-se de ter "enterrado vivos 46.000 intelectuais", o que significa que os enviou para campos de concentração, onde ficariam calados e morreriam de fome.

No Camboja, o Khmer Vermelho exterminou aproximadamente 3 milhões de cambojanos, numa população de 8 milhões. Este radical movimento comunista comandado por Pol Pot chegou ao ponto de ter como alvo qualquer pessoa que usasse óculos. Crianças eram assassinadas a baionetas.

No total, os regimes marxistas assassinaram aproximadamente 110 milhões de pessoas de 1917 a 1987. Destes, quase 55 milhões de pessoas morreram em vários surtos de inanição e epidemias provocadas por marxistas — dentre estas, mais de 10 milhões foram intencionalmente esfaimadas até a morte, e o resto morreu como consequência não-premeditada da coletivização e das políticas agrícolas marxistas.

Para se ter uma perspectiva deste número de vidas humanas exterminadas, vale observar que as duas grandes guerras mundiais do século XX, mais as Guerras da Coréia e do Vietnãm, mataram aproximadamente 85 milhões de civis. Ou seja, quando os marxistas controlam estados, o marxismo é mais letal que as principais guerras do século XX combinadas.

Os aliados

Ou seja, não é exatamente por falta de conhecimento. Afinal, assim como o Holocausto, os gulags da União Soviética, o Holodomor, os campos de extermínio do Camboja e a Revolução Cultural da China também são bastante conhecidos.

E, ainda assim, vários intelectuais, jornalistas e membros do meio académico continuam a defender — e até mesmo a fomentarabertamente — idéias e regimes comunistas. Por toda a Europa, mesmo nos EUA e um pouco por todo o mundo, há jornalistas, intlectuais, professores univrsitários que abertamente apoiam e fomentam o comunismo. Tornou-se aceitável em quase todos os países do mundo (exceto na Polônia, na Geórgia, na Hungria, na Letônia, na Lituânia, na Moldávia e na Ucrânia) marchar sob a bandeira vermelha da ex-URSS, estampada com a foice e o martelo. Para completar, Mao Tse-Tung é amplamente admirado por académicos e esquerdistas de vários países, os quais cantam louvores a Mao enquanto leem seu livrinho vermelho, "Citações do Presidente Mao Tse-Tung".

Seja na comunidade académica, na elite midiática, na elite cultural e artística, em militantes de partidos políticos, em movimentos estudantis, em movimentos ambientalistas etc., o facto é que há uma grande tolerância para com as ideias comunistas — um sistema (de governo) que causou mais mortes e miséria humana do que todos os outros sistemas combinados.

Logo, por que exatamente duas ideologias igualmente odiosas e violentas são tratadas de maneiras tão explicitamente distintas?

"O comunismo real nunca foi tentado!"

A resposta pode estar no erro de percepção das virtudes.

Os nazistas, corretamente, são vistos como odiosos e malignos porque toda a sua ideologia é construída em torno da ideia de que um grupo é superior a todos os outros. Trata-se de uma ideologia inerentemente supremacista e anti-indivíduo, uma violenta crença que foi colocada em prática apenas uma vez por aqueles que a conceberam. Sendo assim, simplesmente não há uma maneira justificável e aceitável para um fascista argumentar que "Ah, mas aquilo não era o nazismo verdadeiro...".

Já o mesmo, aparentemente, não vale para o comunismo. Ao contrário, vemos esse argumento a todo o momento. Aqueles na extrema-esquerda possuem um enorme guarda-chuvas sob o qual se abrigam todos os tipos de estilos comunistas: do stalinismo ao anarco-sindicalismo, passando pelo maoísmo, trotskismo, marxismo clássico ou mesmo pelo socialismo light. E, dado que Karl Marx nunca implantou ele próprio as suas ideias, os líderes dos regimes comunistas sempre usufruíram uma espécie de indulto para praticar suas atrocidades: quaisquer tragédias, descalabros ou crises criadas por regimes comunistas sempre podem ser atribuídas a um "erro" nas aplicações das idéias de Marx, as quais continuam sendo vistas como um mapa infalível para a utopia.

Convenientemente, os defensores desta idelogia sempre têm um passe livre para se descolarem completamente dos horrores do passado. Até hoje, continuam a apresentar-se como pioneiros e desbravadores de uma ideologia humanitária que simplesmente ainda não teve a oportunidade de desabrochar por completo. "O comunismo de verdade nunca foi tentado!", gritam eles após cada novo fracasso do comunismo.

Agindo desta maneira, os defensores do comunismo podem, após cada novo fracasso, continuar impavidamente a apresentar-se como humanitários. Eles estão apenas a lutar pela libertação da classe trabalhadora e pela criação de um paraíso dos trabalhadores, arranjo este que nada tem a ver com os fracassos e falsos profetas anteriores. A atual geração de comunistas sempre será aquela que, agora sim, irá implantar o comunismo real, e não as deturpações que foram tentadas antes. Na pior das hipóteses, tais pessoas são vistas apenas como seres ingênuos, mas ainda assim muito bem-intencionados.

Onde estabelecer os limites?

Este é o cerne da questão. Ao passo que o nazismo sempre esteve intrinsecamente ligado aos crimes dos seus adeptos, os comunistas sempre conseguiram distanciar-se das suas tragédias. Ninguém toleraria a presença de uma t-shirt estampada com Adolf Hitler ou Benito Mussolini, mas a foto do maníaco homicida Che Guevara em é amplamente tolerada, cultivada e vista como um símbolo de rebeldia juvenil. Então, como estabelecer os limites?

A ideologia comunista, na sua forma mais pura, consegue sempre distanciar-se das suas efectivas acções, mas a partir de que ponto do seu tenebroso histórico irá conseguir novas tentativas de se implantar?

Como disse o economista Murray Rothbard: "Não é nenhum crime ser ignorante em economia, a qual, afinal, é uma disciplina específica e considerada pela maioria das pessoas uma "ciência lúgubre". Porém, é algo totalmente irresponsável vociferar opiniões estridentes sobre assuntos económicos quando se está em estado de ignorância." 

Temos de dizer o mesmo sobre o comunismo. Continuar a defender idéias e bandeiras comunistas não obstante o pavoroso histórico desta ideologia não é uma postura nem ingénua e nem muito menos bem-intencionada. A história do comunismo muitas vezes mais sanguinária que a do nazismo. É hora de dispensarmos a seus símbolos e a seus defensores dando-lhe a mesma tolerância que já dispensamos aos nazistas, isto é, nenhuma.

De resto, um lembrete aos esquerdistas, pseudo progressistas de hoje que se arrepiam com a simples sugestão de que sua agenda pouco difere da dos maníacos nazistas, soviéticos e maoístas: não é necessário defender campos de concentração ou conquistas territoriais para ser um tirano. O único requisito necessário é acreditar na primazia do estado sobre os direitos individuais.

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