Quatro imagens mentais contra o keynesianismo
Quatro imagens fornecem as ferramentas conceptuais necessárias para refutar a teoria económica keynesiana: a arma, a carteira, o título da dívida e a impressora de dinheiro. Lembre-se delas todas as vezes que ler propaganda keynesiana exaltando os últimos planos de despesas do governo. Explico.
Pense que está em um debate público. Se quiser arruinar um oponente intelectual num debate, descubra qual o seu principal ponto fraco e concentre-se nele. Nunca o deixe escapar. Garanta que a plateia sairá do debate tendo em mente todas as refutações que você apresentou.
Ao preparar-se para um debate, lembre-se sempre desse princípio da comunicação eficaz:
"É mais fácil esquecer uma fórmula do que uma imagem mental".
Os economistas teóricos adoram fórmulas. E é essa precisamente a sua maior vulnerabilidade. Ao contrário das fórmulas da física, as fórmulas dos economistas podem esconder profundos erros conceptuais; erros que simples imagens mentais mostram ser um absurdo total. O indivíduo comum pode prontamente perceber e entender esses erros por meio do uso de simples imagens mentais. Já os economistas académicos, por outro lado, são deliberadamente treinados na sua especialização para ignorar essas imagens. Eles ficam facilmente cegos por fórmulas. Isso coloca-os em desvantagem nos debates públicos, especialmente quando têm de debater membros de uma escola de pensamento económico que não utiliza fórmulas: a escola austríaca de economia. Irei agora fazer uma demonstração de como esse princípio funciona num debate.
A FÓRMULA CENTRAL DO KEYNESIANISMO
A descrição da economia keynesiana na Wikipédia é um bom lugar para se começar. Aqui, temos a fórmula keynesiana presente em todos os livros:
Em representação científica, a Fórmula Keynesiana consiste do seguinte:
C + I + G + X - M = Y(PIB)
que significa:
Consumo + Investimento + Gastos Governamentais + eXportações - iMportações = Produto Interno Bruto
Os gastos são o núcleo da economia keynesiana. O consumo (C) resulta de uma série de decisões individuais de afectação de recursos por toda a sociedade. Idem, idem para os Investimentos (I), exportações (X) e importações.
Já os gastos governamentais representam um tipo diferente de decisão de afectação. "Está vendo essa arma? Está vendo para onde ele está apontada? Passe a carteira!"
O estudante pode ver que o gasto total se baseia em todas as quatro letras da fórmula. C, I, X e M com origem nas decisões dos detentores originais dos recursos. Já o G não tem por base as decisões dos proprietários originais dos recursos. G tem origem na decisão do seu novo proprietário, após múltiplas transações feitas sob a mira da arma.
G não cria nada. G confisca. G não pode gastar nada que não tenha antes extraído dos consumidores ou investidores sob coacção.
C, I, X e M baseiam-se na produção. Representam forças criativas. G é baseada no confisco. Não é uma força criativa. Tudo o que é gasto por G é feito à custa de C, I, X ou M. Quando G gasta, isso é feito à custa de todos os outros.
Um estudante perspicaz é suficientemente esperto para imaginar o que a maioria das pessoas faz quando ameaçadas por ladrões com armas, mesmo quando os ladrões carregam distintivos. Não irão colocar todo o seu dinheiro à vista nas suas carteiras. Irão esconder parte do seu dinheiro e não irão gastá-lo. Pessoas que carregam distintivos e armas chamam esse ato de entesouramento da moeda. Trata-se de Algo Muito Mau, segundo eles.
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É aqui que Keynes vem em socorro dos governos de todo o mundo. Para evitar que as pessoas entesourem dinheiro — mantendo-o assim a salvo da sanha tributária, mas consequentemente levando a uma redução do gasto agregado —, Keynes aconselhou os governos oferecerem títulos de dívida que paguem juros. Dessa forma, os governos poderiam obter empréstimos, gastar e, com isso, manter o nível do despesa agregado. "Escondam as armas. Ofereçam títulos."
Apenas estudantes muito espertos irão fazer estas duas perguntas óbvias:
Onde irá o governo tirar dinheiro para pagar esse empréstimo e respectivos juros?
Onde irão as pessoas tirar dinheiro para emprestar ao governo?
As respostas dos políticos para a primeira pergunta é fácil: (1) iremos contratar mais homens com distintivos e armas; (2) iremos oferecer mais títulos de dívida. Porém, essas não são respostas elucidativas; são apenas história, pois a pergunta continua sem resposta.
Então Keynes acrescentou isto: "Imprimam mais dinheiro". Especificamente ensinou que os salários reais iriam cair em conjunto com o poder de compra em tempos de inflação de preços. Os sindicatos iriam aceitar esses menores salários reais, segundo Keynes. Isso iria levar à criação de emprego: salários menores significam mais procura de mão-de-obra. Implicitamente supôs que os sindicalistas eram tolos, assim como os economistas que eles contratariam para fazer negociações.
E quanto à segunda pergunta? De onde os emprestadores tirarão dinheiro para emprestar para o governo? A resposta de Keynes fazia aparente sentido à época, quando as pessoas guardavam ouro (nos EUA) ou moeda corrente (em todo o resto do mundo) em casa. Porém, após 1934 nos EUA, quando Seguro Federal para Depósitos Bancários foi criado (seguro esse que hoje existe em todo o mundo), o argumento de Keynes perdeu o sentido. As pessoas passaram a depositar o seu dinheiro nos bancos. Os bancos então passaram a emprestar esse dinheiro. Dali em diante, o governo poderia emitir vários títulos e incorrer em grandes déficits orçamentais, que os bancos iriam utilizar o dinheiro de seus depositantes para comprar esses títulos do governo. O problema é que os investidos agora não teriam mais a mesma facilidade de antes para conseguir novos empréstimos junto desses bancos, que passaram a canalizar o dinheiro para os títulos do governo.
Keynes imaginou que, sob este esquema, a despesa agregada não iria sofrer alterações. É aí que sua teoria desmorona.
Mesmo no primeiro caso — entesouramento da moeda —, o argumento já não fazia sentido em 1933. Quando a moeda é entesourada, os preços têm de cair. Quando os preços caem em consequência do entesouramento — que representa um aumento da procura por moeda —, a moeda volta a ser gasta. Os vendedores tornam-se sedutores: "Tenho uma grande promoção para si!" Com isso, as pessoas deixam de entesourar e passam a gastar. Se os preços são livres e flexíveis — e num livre mercado eles são —, então o governo não precisaria emitir títulos para fazer com que as pessoas voltem a gastar. Bastaria apenas remover todas as restrições legais que impedem esse rearranjo de preços: tarifas, quotas e políticas de preços mínimos.
Tão logo o estudante entenda isso, o professor poderá ir adiante e passar da lógica para a retórica: persuasão por meio da imagística.
SUBSTITUA IMAGENS POR FÓRMULAS
Eis o verbete da Wikipédia para gastos do governo.
Gastos governamentais ou despesas governamentais consistem em compras do governo, as quais podem ser financiadas por impostos ou empréstimos contraídos pelo governo. Os gastos governamentais são considerados um dos principais componentes do produto interno bruto.
John Maynard Keynes foi um dos primeiros economistas a defender déficits orçamentais como parte de uma política fiscal para curar uma contração económica. Na economia keynesiana, acredita-se que um maior gasto governamental eleva a procura agregada e aumenta o consumo.
Aqui, eu sugiro o seguinte. Faça a pergunta novamente: "Como é que o governo irá fazer para pegar o dinheiro da carteira ou da conta bancária dos financiadores sem que isso reduza os seus gastos?"
As pessoas conhecem e entendem de carteiras. Elas não entendem muito é de fórmulas. Continue mencionando 'impressoras'. Elas sabem o que é falsificação.
O estudante deverá sempre ter a imagem mental de uma arma, de uma carteira, de um título de dívida e de uma impressora. Uma fórmula não transmite conhecimento eficazmente. Uma imagem mental, sim. As pessoas esquecem fórmulas mais rapidamente do que esquecem imagens mentais.
O núcleo da economia keynesiana é este: atribuir uma produtividade económica autónoma a quem tem o poder, a arma. De alguma forma, o governo pode elevar a despesa agregada da economia
(1) sem estar produzir nada de novo e
(2) sem que isso reduza os gastos em noutros lugares da economia.
Keynes nunca explicou como isso seria possível. Nem os seus discípulos.
Eis o centro do erro da teoria keynesiana: "G pode aumentar sem reduzir C, I, X e M". É fácil mostrar isso na fórmula. Mas é apenas uma fórmula. Tente transformar a fórmula numa imagem mental.
Diga ao estudante, "Quando você vir G, pense numa arma" [em inglês é mais fácil: G = Gun]. Essa imagem mental destroi a autoridade da fórmula.
E o estudante vai responder:
"A economia keynesiana não pode ser resumida apenas nisso".
Mas pode. Com efeito, toda a economia keynesiana é apenas isso. E prossegue:
"Alguém teria descoberto isso ainda em 1936 se isso fosse tudo o que há nela."
Poucos, além de Mises e Hayek, fizeram isso. E esses poucos passaram a ser ignorados após 1948, o ano em que Paul Samuelson publicou o seu livro texto de economia.
Como assim? Por que toda essa platitude foi aceita? Por causa daquilo que George Orwell observou em 1946, o mesmo ano em que Keynes morreu. "Ver o que está mesmo à frente do nariz exige um grande esforço".
Seja a criança na parada que grita: "O rei vai nu!" Comece com a explicação mais simples — a visual — sobre o núcleo do colossal erro de Keynes. Não deixe passar batido.
Comece com a arma, a carteira, o título da dívida e a impressora. A fórmula do PIB é simplesmente uma fachada para agradar economistas.

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