quarta-feira, 2 de setembro de 2020

A economia numa página

Os princípios básicos da economia e de uma política económica sensata

O que faz da economia algo fascinante é que os seus princípios fundamentais são tão simples, que podem ser escritos numa única página, de modo a que qualquer um os consiga entender. No entanto, são poucos os que entendem. — Milton Friedman

A declaração acima dá que pensar: seria possível resumir os princípios básicos da economia numa única página? Afinal, Henry Hazlitt já nos deu um magnífico resumo dos princípios sólidos da ciência econômica em seu livro "Economia numa Única Lição". Poderiam esses conceitos ser reduzidos a uma página?

Sim, os princípios base da economia são simples: Oferta e procura. Custo de oportunidade. Vantagens comparativas. Lucros e prejuízos. Concorrência. Divisão do trabalho. Produtividade. E por aí fora.

Adicionalmente, as políticas económicas sensatas são óbvias, diretas e claras: é a livre interação entre as pessoas (ou seja, o mercado), e não os burocratas do estado, quem deve determinar preços e salários. Mantenha o governo longe da política monetária. Os impostos deveriam ser reduzidos ao mínimo. O governo deve sobreviver exclusivamente por meio de suas receitas. Leis e regulamentos devem ser iguais para todos. Tarifas de importação e barreiras comerciais deveriam ser eliminadas ao máximo possível. Em suma, o governo que melhor governa é o que menos governa.

Infelizmente, os economistas e principalmente os políticos tendem esquecer-se destes princípios básicos, e com grande frequência perdem tempo criando modelos esotéricos, teorias cretinas, pesquisas académicas desnecessárias e importando modelos matemáticos da física. O grande Armen Alchian dizia que 95% de tudo o que é publicado em jornais académicos de economia ou está errado ou é irrelevante.

Economia numa página

1.Interesse próprio: "o desejo de melhorar a nossa condição está em nós mesmos desde o útero e jamais nos abandona até irmos para o túmulo" (Adam Smith). O indivíduo age sempre visando melhorar sua situação o seu desconforto. Ele trabalha, empreende e consome tendo como objetivo supremo melhorar a sua condição de vida. Uma consequência de tudo isso é que ninguém gasta o dinheiro dos outros com a mesma cautela e sabedoria com que gasta o próprio dinheiro. Principalmente os burocratas do governo.

2.Crescimento económico: o segredo para um nível de vida mais alto é aumentar a poupança, a acumulação de capital, a educação e a tecnologia.

3.Comércio: Em todas as trocas voluntárias, nas quais as informações são previamente explicitadas, tanto o comprador como o vendedor ganham. A transação não ocorreria caso um dos lados não sentisse que beneficiava dela. Consequentemente, um aumento no comércio entre indivíduos, grupos ou populações beneficia ambos os lados, por definição.

4.Concorrência: Dado que os recursos existentes (mão-de-obra, matéria-prima, máquinas e ferramentas) são limitados, e dado que os desejos e necessidades a serem satisfeitos são ilimitados, sempre existirá concorrência  em todas as sociedades, e não poderá ser abolida por decreto.

5.Cooperação: Uma vez que a esmagadora maioria dos indivíduos não é auto-suficiente, e praticamente todos os recursos naturais precisam ser trabalhados e transformados a fim de se transformarem em bens úteis, todos os indivíduos — trabalhadores, proprietários de terra, capitalistas e empreendedores — ganham em cooperar  para produzir esses bens e serviços valiosos e desejados.

6.Divisão do trabalho e vantagens comparativas: Cada indivíduo é único. As diferenças de talento, de inteligência, de conhecimento, de destreza e de propriedade geram especialização. Consequentemente, cada indivíduo ou grupo de indivíduos, ao concentrarem-se naquilo que fazem melhor, adquirem uma vantagem comparativa em relação aos outros. Quando indivíduos especializados num serviço e usufruindo uma vantagem comparativa nesse serviço transacionam com outros indivíduos especializados noutro serviço, o crescimento económico e as vantagens de cada um são maximizadas.

7.Dispersão do conhecimento: As interações constantes entre milhões de indivíduos, produzem uma multiplicidade de informações que são impossíveis de serem apreendidas e processadas por um grupo limitado de seres humanos. As informações sobre o mercado — isto é, sobre as preferências dos consumidores, a escassez relativa (ou abundância relativa) de algum bem ou serviço, bem como o conhecimento sobre como atender a essas procuras — são tão diversas, dispersas e ubíquas, que não podem ser capturados e calculados por uma autoridade central.

8.Lucro e prejuízo: a ocorrência de lucros e prejuízos é o mecanismo de mercado que guia os empreendedores e produtores e indica o que deve e o que não deve ser produzido no médio e longo prazo.

9.Custo de oportunidade: tempo e recursos são bens limitados. Consequentemente, sempre haverá escolhas e concessões. Se você quer fazer  ou obter algo, terá de abrir mão de outras coisas que também gostaria de fazer ou obter. O preço de fazer uma atividade equivale ao custo de outras atividades das quais terá de abrir mão.

10.A teoria dos preços: os preços são determinados pelas valorações subjetivas de compradores (procura) e vendedores (oferta), e não por algum custo objetivo de produção. 

  • o valor dos bens e serviços não é determinado pelo valor dos consumos (como mão-de-obra e matéria prima); 
  • o valor dos consumos é que é determinado pelo valor dos bens e serviços que eles ajudam a produzir;
  • o valor dos bens e serviços é determinado subjetivamente pelos consumidores
  • quanto maior o preço, menor a quantidade que os compradores estarão dispostos a comprar e maior a quantidade que os vendedores estarão dispostos a colocar à venda.

11.Causalidade: Para cada causa há um efeito. Os actos e acções dos indivíduos, empresas e governos têm um impacto sobre outros agentes económicos, impactos estes que podem ser estimados, muito embora o nível de previsibilidade dependa da complexidade das ações envolvidas.

12.Incerteza: a incerteza é uma certeza. Há sempre um grau de risco e incerteza quanto ao futuro, pois as pessoas reavaliam constantemente os seus planos, aprendem com os seus erros, e mudam de idéias. Tudo isso torna muito difícil prever qual será o comportamento das pessoas no futuro.

13.Salário e mão-de-obra: maiores salários só podem ser alcançados a longo prazo se houver  aumentos da produtividade. E maior produtividade só é possível quando há bens de capital que tornam o trabalho humano mais eficiente e produtivo. O desemprego crónico ocorre quando os custos da mão-de-obra impostos pelo governo e pelos sindicatos (salários e encargos sociais) estão acima do valor de mercado.

14.Controles governamentais: controles de preços, de salários e de outros factores de produção, podem beneficiar alguns indivíduos ou grupos, mas não a sociedade como um todo. No fim, eles acabam por criar escassez, mercados paralelos e uma deterioração da qualidade dos serviços. Não almoços grátis.

15.Dinheiro: acções deliberadas de desvalorizar a moeda do país, reduzir artificialmente as taxas de juros, e adotar políticas de crédito fácil e barato inevitavelmente degeneram eaumentos de preços, desarranjos e crises económicas. É o mercado, e não o estado, quem deve determinar o que é o dinheiro e como deve ser o crédito.

16.Finanças públicas: eis os quatro mandamentos básicos que devem nortear qualquer administração pública:

  • o governo não devgastar mais do que arrecada;
  • o governo não deve fazer nada que a iniciativa privada possa fazer melhor;
  • se os benefícios marginais não forem maiores que os custos marginais, então tal medida não deve ser implantada; 
  • os que beneficiam de um serviço devem pagar por ele.

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