POUPANÇA
Sociedades pobres e sociedades ricas - o que faz a diferença
Da riqueza e da pobreza
A diferença entre o Robinson Crusoé rico e o Sexta Feira rico é aparentemente simples, porém essencial: o rico dispõe de bens de capital. E para ter esses bens de capital, teve de poupar e investir.
Bens de capital são fatores de produção — no mundo atual, ferramentas, máquinas, computadores, equipamentos de construção, tratores, britadeiras, serras elétricas, edifícios, fábricas, meios de transporte e de comunicação, minas, explorações agrícolas, armazéns, escritórios etc. — que auxiliam os seres humanos nas suas tarefas e, consequentemente, tornam o trabalho humano mais produtivo.
Os bens de capital do Robinson Crusoé rico (por exemplo, uma rede e uma cana de pesca, construídas com bens que demorou, digamos, 5 dias para produzir) foram obtidos porque ele poupou (absteve-se do consumo) e, por meio de seu trabalho, transformou os recursos que não tiha consumido em bens de capital. Estes bens de capital permitiram ao Robinson Crusoé rico produzir bens de consumo (pescar peixes e colher frutas) e com isso melhorar o seu nível de conforto e bem estar.
Já o Sexta Feira pobre, por sua vez, não dispõe de bens de capital. Todo o seu trabalho é feito à mão e com recurso a utensílios que improvisa no momento. Consequentemente, é menos produtivo e, por produzir menos e ter menos bens à sua disposição, é mais pobre e seu nível de vida e conforto é mais baixo.
O Robinson Crusoé rico é mais produtivo, isto é, gasta menos tempo para obter as mesmas coisas. E, por ser mais produtivo, não apenas pode descansar mais, como também pode poupar mais, o que irá permitir-lhe acumular ainda mais bens de capital e consequentemente aumentar ainda mais a sua produtividade no futuro. Já o Sexta Feira pobre consome tudo o que produz. Não tem outra opção. Como é pouco produtivo, não pode dar-se ao luxo de descansar e poupar. Essa ausência de poupança compromete as suas hióteses de melhorar o seu nível de vida no futuro.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado para se diferenciar uma nação rica de uma nação pobre.
Que diferença há entre EUA e Índia? Será que a população indiana é mais pobre porque trabalha menos? Não. Na Índia, trabalha-se até mais do que nos EUA. Será que um indiano — ou um egípcio ou um mexicano ou um haitiano — possui menos conhecimento tecnológico que um americano ou um suíço? Não, o conhecimento está hoje disperso pelo mundo e tende a ser o mesmo. Com efeito, os técnicos indianos são reconhecidos como dos melhores do mundo. Então, por que há pessoas desnutridas e morrendo de inanição em Calcutá mas não em Zurique ou em San Francisco?
A diferença entre uma nação rica e uma nação pobre pode ser explicada exclusivamente por um único fator: a nação rica possui mais bens de capital do que uma nação pobre. É mais produtiva.
Ao passo que na Índia um agricultor cultiva a sua terra com duas vacas e um arado, nos EUA, um agricultor utiliza um trator e um computador. E, com esses bens de capital, ele é múltiplas vezes mais produtivo que o seu semelhante indiano que possui duas vacas e um arado; o indiano seria o Sexta Feira pobre, que utiliza as próprias mãos para colher alimentos.
Quando um indivíduo tem de utilizar apenas o trabalho das suas mãos, e o produto que produz é utilizado imediatamente para seu consumo final, é pobre. Quando esse mesmo indivíduo passa a utilizar bens de capital, como tratores, computadores e vários tipos de máquinas, — os quais só puderam ser construídos graças à poupança e ao subsequente investimento de outras pessoas — pode multiplicar significativamente a sua produtividade e, consequentemente, ser muito mais rico.
Quanto maior a complexidade de produção — isto é, quanto maior o número de etapas intermediárias utilizadas para a produção de um bem —, mais produtivo tende a ser esse bem. Por exemplo, se o bem de consumo a ser produzido é o milho, você tem de preparar e cultivar a terra. Você pode fazer tal tarefa com um arado ou com um trator. O trator moderno é um bem de capital cuja produção exige um conjunto de etapas muito mais numeroso, complexo e prolongado do que o número de etapas necessário para a produção de um arado. Consequentemente, para arar a terra, um trator moderno é muito mais produtivo do que um arado. Portanto, o processo de produção do milho será mais produtivo caso você utilize um trator em vez de um arado (cujo processo de fabrico é extremamente mais simples).
Isto explica por que um trabalhador nos EUA ganha um salário muito maior do que um trabalhador na Índia executando a mesma função. O primeiro possui à sua disposição bens de capital em maior quantidade e de maior qualidade do que o segundo. Logo, o primeiro produz muito mais do que o segundo num mesmo período de tempo. Quem produz mais pode ganhar salários maiores.
Essa é a característica que diferencia um país rico de um país pobre.
Implicações lógicas
A única maneira de se favorecer as classes trabalhadoras e os mais pobres, portanto, é pôr à sua disposição bens de capital, que são produzidos graças à poupança e ao investimento de aforradores e investidores.
Consequentemente, se um determinado país pobre quer enriquecer, ele deve criar um ambiente institucional que incentive e garanta a segurança da poupança e dos investimentos. A única maneira de se sair da pobreza é fomentando a poupança, permitindo o livre investimento em bens de capital, e estabelecendo um sistema de respeito pela propriedade que favoreça a criatividade empresarial e a livre iniciativa.
Um país que desdenha do papel dos investidores e empreendedores, que tolhe a livre iniciativa, que não assegura a propriedade privada, que tributa os lucros gerados pelos investimentos, e que cria burocracias e regulamentos limitadores sobre a livre iniciativa é um país condenado à pobreza. Já um país que fomenta a poupança, que respeita a propriedade privada, e que permite a liberdade de investimento e a acumulação de bens de capital é um país que sairá da pobreza e em poucas gerações poderá chegar à vanguarda do desenvolvimento econômico.
Cigarras e formigas
Vivemos em um mundo repleto de demagogia de cegueira ideológica e de políticos populistas. Estes são os principais inimigos da criação de riqueza.
Se um partido político prometer que, uma vez eleito, os salários serão duplicados e as horas de trabalho serão reduzidas à metade, as suas hipóteses de chegar ao poder tendem a aumentar. Manipular salários ou mesmo imprimir dinheiro para manipular as taxas de juros são medidas que nada podem fazer para contornar o facto de que vivemos num mundo de escassez. E escassez significa que os recursos têm primeiro de ser poupados para só depois serem investidos para criar bens de capital. Manipulação de salários e juros não pode abolir a escassez. Não se pode aumentar a quantidade de bens de capital e nem a produtividade dos trabalhadores sem haver poupança prévia. A necessidade de se abster do consumo (poupar) é um sacrifício que não pode ser encurtado por políticas populistas. O enriquecimento não é algo que pode ser alcançado pela demagogia nem por decreto.
Se um partido ou governo prometer apenas uma "redistribuição de riqueza", tirando dos ricos para dar aos pobres, os efeitos tendem a ser igualmente devastadores. Seria o triunfo da filosofia da cigarra sobre a filosofia da formiga. É fácil entender como se daria este efeito deletério.
Os proprietários dos bens de capital de uma economia são os capitalistas. Se o partido que está no poder for seguidor de uma ideologia socialista que defenda a expropriação dos capitalistas e a subsequente entrega de seus bens de capital aos trabalhadores, o que ocorrerá é que esses trabalhadores irão apenas consumir este capital, pois tal consumo fará com que seu nível de vida aumente momentaneamente. A consequência? Tendo consumido o capital, todas as etapas intermediárias dos processos produtivos serão extintas. A estrutura de produção da economia será dramaticamente reduzida. A produtividade cairá. Todos estarão condenados à pobreza.
A riqueza física dos ricos está justamente na propriedade de bens de capital — que foram criados por meio da poupança e disponibilizados para o uso dos trabalhadores, — os quais possibilitam um aumento da produtividade e consequentemente dos salários dos trabalhadores. A redistribuição da propriedade destes bens de capital levará apenas ao seu consumo imediato, impossibilitando-os de criar mais riqueza no futuro.
A riqueza só pode ser criada por meio da poupança e da acumulação de bens de capital. Não há atalhos para esse processo.
O mesmo raciocínio é válido para uma situação que envolva apenas a redistribuição de dinheiro. Um milionário que tenha quase todo o seu dinheiro distribuído aos pobres, de modo a ficar praticamente com o mesmo rendimento deles, fará apenas com que a população desta economia esteja indubitavelmente mais pobre no futuro. Os beneficiados por essa redistribuição irão apenas consumir o seu dinheiro — pois isso lhes trará um imediato aumento de seu nível de vida — e não mais haverá poupança (abstenção de consumo) nessa sociedade que permita a acumulação de bens de capital. Em vez de postergar o consumo para possibilitar a criação de bens de capital, haverá apenas o consumo e predação presente do capital existente. O Robinson Crusoé rico deu a sua rede e a sua cana de pesca ao Sexta-Feira, que as consumiu e deixou ambos com um níveis de vida futuro bem mais baixo.
A redistribuição de riqueza gera e perpetua a pobreza. Porém, como tal fenómeno não é imediato, ele pode ser adoptado durante algum tempo sem que suas consequências sejam imediatamente sentidas. Mas a história recente está carregada de bons exemplos.
Para uma sociedade prosperar, a poupança e a acumulação de capital devem ser incentivadas; jamais devem ser penalisadas. Sociedades que permitem que as cigarras imponham sua filosofia às formigas jamais poderão ser ricas.
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